quarta-feira, 13 de maio de 2009

Amém

Poética- Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Meu remédio

(Me dói dizer isso, mas na verdade estou desafiando o destino a me provar o contrário.)

Já tentei te substituir,
e acredite, nem foi tão difícil (lastimável você ter aparecido pra estragar tudo de novo)
Já quis te esmagar.
Tenho vários planos pra te fazer sofrer longamente.
Já tenho o sorriso preparado para esse momento.
Já quis te matar bem devagarinho,
ou te envenenar com um veneno definitvo e cruel: a razão.
Já quis te deixar na mais completa miséria e abstinência...
Nem todas as DR's tão chatas foram suficientes para te fazer desistir, seu idiota persistente.
Me deixe.
Não vou repetir nem soletrar.
Junte seus trapinhos e tome seu caminho.
Não quero te sentir perto de mim por um longo tempo.
Imbecil.
Vá andando e não olhe pra trás.
Vá pra onde eu não possa te ver.
Meu remédio é não te ter.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Primeira Pessoa


Vou usar a primeira pessoa
pra reafirmar essa identidade meio perdida, bem delineada e as vezes meio vacilante...
Pra dizer o que meus lábios não conseguem pronunciar
ou para bagunçar minhas idéiazinhas sobre todo e qualquer assunto (trivial ou não).

Vou usar o que eu puder
pra ser quem eu sou.

Sentir o vento no meu cabelo e continuar sorrindo.... como sempre.
Ouvir uma música e fechar os olhos...

Usar sempre minhas expressões peculiares e exclamações sem pudor ou controle de volume,
ser quem sou sem diminutivos.
Não gosto de minimizar,
quero tudo no superlativo,
uso meu óculos fundo de garrafa pra me livrar da miopia dos normais
(nem sempre consigo, é fato).

Falo mesmo e muito dessa garota (ela merece?)
seus 20 e poucos anos de fotos, textos, roxo, Fernando Pessoa e fases.
É assim mesmo... egocentrismo cultivado. Doses oportunas e cuidadosamente administradas.
Não me explico. Falo do que sinto e isso basta.
Falo das inconstâncias, suas obsessões e amores,
histórias mal contadas, segredinhos, contradições, ressacas
(morais ou não), teorias, constatações, descobertas, amigos tão amados, saudades tão intensas, dúvidas, devoção, lágrimas, gargalhadas...
Falo do que me move
por não saber como me manter de outra maneira.


Escrever me salva sempre.


Vou usar a primeira pessoa pra não fugir do assunto como sempre faço...
pra não ignorar tudo em que acredito,
minha quase-fé
e suposta perseverança.

Vou usar a primeira pessoa pra continuar sendo
Garota Devaneio demais....
Não existe mais um caminho de volta.

Isso é fato.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Ela

Ela sempre me dizia 'Não existe amor, só engano'.

Ela era sempre tão comedida, tão centrada... falava pouco, observava muito, sabia exatamente o que fazer nos momentos de crise, sabia que caminho escolher sem vacilar... era sempre quem secava as lágrimas de todos, era quem escolhia as palavras certas pra consolar.

Ela sempre me dizia que não se apaixonaria nunca, que essa história de amorzinho era pura 'invenção da mídia' ou desculpa para comer chocolate sem estar na TPM.

Ela estava no controle da sua vida e sentimentos, sempre tão auto-suficiente, eu me lembrava da sua determinação e fé inabalável sempre que me sentia sozinha ou perdida.

Ela sempre me empurrava para a aula de Lingüística
e eu podia ver um sorriso nas aulas de Literatura...
É, era aquele sorriso de contentamento total que ela sempre mostrava ao falar de poesia.
Aprendi a ser assim com ela. A apreciar essa espécie de vício por palavras. Mas quem as cultiva sou eu, ela apenas observa esse processo criativo com curiosidade.

Ela passava horas falando sobre os Beatles, Queen e Cazuza e se recusava terminantemente a escutar Paramore;
Ela não iria à um funk nunca!
Sabia todos os malefícios do pagode e da nicotina e não bebia nem Licor.
Tão certinha...

Ela quase enfartou quando contei que fiz uma tatuagem,
e esses dias comuniquei que a segunda está à caminho e ela murmurou 'Cada louco com sua mania'.
Ela não usa esmalte vermelho,
nem fala alto,
nem sai muito de casa....
Adora um filme assistido tão solitáriamente quanto for possível...

Ela sempre me desafiava e me irritava com seu tom cínico cuidadosamente usado,
suas ironias e piadinhas sempre pertinentes.
Adorava ridicularizar meu romantismo
e a maneira que acredito sempre no melhor das pessoas.

Ela sempre me dizia 'Não acredite', 'não aceite essas migalhas não!'
mas eu nunca segui seus conselhos à risca, e ela sempre soube disso.

Ela sempre me dizia 'Vá ler um livro!' ou 'Pára de falar nele, por favor?Já está me cansando!', ela sempre me trazia de volta à realidade quando eu insistia em devanear por caminhos incertos. Sua dose de ceticismo se misturava tão bem com meu lirismo...
Sua retidão combinava com meus caminhos e idéias tortas,
suas duras verdades sempre gladiavam com minhas 'mentiras profiláticas' ,
sua obstinação sacudia meu marasmo
e seu gosto pelo óbvio completava minha predileção pelo estranho.

Ela era uma parte racional nesse emaranhado de subjetividade que sou eu.
Ela não era extremista
nem exagerada.
Ela era a parte intelectual nesse monte de futilidade,
ela era o norte nesse mundo de lestes errados...

Ela foi o meu motivo pra seguir adiante, sempre.

Já me calei e já mandei ela se ferrar várias vezes;
já ignorei, já fingi não amá-la,
já fugi dela inumeráveis vezes.

Mas ela sempre vem me buscar,
me resgatar das outras que possam me roubar.
Ela sempre vem me salvar de mim mesma.

Dessa vez, ela está aqui, passando um tempo comigo.
Tentando mais uma vez me ensinar a ser 'um pouco menos'
Menos exagerada, extremista, drama queen, intensa, freak, inconstante,insana...

Se ela vai conseguir?
Na verdade, nem sei se quero.

terça-feira, 3 de março de 2009

Don't

It's strange,




but I don't wanna be me. ( I shouldn't be saying this...)

I'm writing in (poor) English, I'm listening to some musics that aren't mine.
I can't recognize my eyes and the way they look around.
I'm thinking about things that aren't important,
I'm not even trying to finish that book.

I'm not paying attention to my own advices,
I'm not at the same place where my tears are.
And I don't care, after all...


What's going on?

Who is this girl that loves to talk about things that she can't have?
And as a matter of fact, she doesn't know the names of her own feelings...
Who is this girl that I'm trying to understand?

I'm surprised at myself...

It's strange,


but I don't wanna listen to me.
My excuses,
my reasons to cry or to
keep going
with this lie,
with this impossible way of life,
with this obssession about everything.


My little and disgusting world of nothing is falling
And I'm not doing anything.


I'm ashamed,
That's all.


"O que eu queria, o que eu fazia, o que mais?
e alguma coisa a gente tem que amar
mas o que não sei mais

Os dias que eu me vejo só
são dias que eu me encontro mais
e mesmo assim eu sei também
existe alguém pra me libertar" - Los Hermanos

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

I'm trying.

Eu sei escrever. Mas eu não sei mais como escrever. Sempre adorei escrever. Mas esqueci como se faz. Atrofiou. Se perdeu. É como um pedaço de mim que não existe mais. Amanhã, mais tarde, daqui a pouco.... E as palavras foram se desmanchando, desaparecendo.

Eu quero escrever. Eu não consigo. Ou será que eu não tento? Parece impossível, as idéias estão sempre confusas. O assunto parece sempre inapropriado, repetitivo, desgastado. Eu quero escrever, mas eu não posso. Tenho medo do que a caneta vai liberar, do que a tela do meu computador vai me mostrar. É como viver sem uma parte de você, mas uma vez que você se acostuma... Desperdício.

Eu sempre gostei de escrever. Sonho abandonado, talento largado, covardia. Eu não sei mais como escrever. Eu queria uma poesia, um conto, uma carta de amor. Publicar um livro, contar histórias, atualizar meu blog. Eu vou escrever, mas não tenho tempo. O que é a inspiração, quem é ela, onde se esconde? É uma desculpa, uma musa, um destino ou um desafio? É a minha vida, é a sua.

Palavras. Escrever. Eu. Sei. Não. Desista.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Maresia

O vento bate e bagunça meu cabelo.
O cheiro do mar meche com a pessoa que eu penso ser
e modifica a que eu ainda serei.
Provoca um sorriso e me lembro daquela velha canção...
Toca.Queima. É o sol tentando me lembrar
que até as tempestades internas têm fim.
São as pequenas alegrias que merecem tanto serem divididas...
São as grandes surpresas que não pedem explicações.
É incrível como consigo me supreender com o modo como sinto o mundo...
é assustador como me sinto inspirada com tão pouco.
Me dedique dois minutos de carinho e transformo em duas folhas de 'poesia',
me diga uma palavra sincera e transformo em sorriso...

Vou deixar essas mesquinharias para trás,
vou deixar que o vento leve embora tudo - e todos- que não me merecem.
Não adianta mesmo negar.... Minhas partes vão se unir em prol de mim mesma um dia.
Eu só espero que seja durante um pôr do sol
em frente ao mar
com alguém que me faça ser o melhor de mim.