segunda-feira, 9 de março de 2009

Ela

Ela sempre me dizia 'Não existe amor, só engano'.

Ela era sempre tão comedida, tão centrada... falava pouco, observava muito, sabia exatamente o que fazer nos momentos de crise, sabia que caminho escolher sem vacilar... era sempre quem secava as lágrimas de todos, era quem escolhia as palavras certas pra consolar.

Ela sempre me dizia que não se apaixonaria nunca, que essa história de amorzinho era pura 'invenção da mídia' ou desculpa para comer chocolate sem estar na TPM.

Ela estava no controle da sua vida e sentimentos, sempre tão auto-suficiente, eu me lembrava da sua determinação e fé inabalável sempre que me sentia sozinha ou perdida.

Ela sempre me empurrava para a aula de Lingüística
e eu podia ver um sorriso nas aulas de Literatura...
É, era aquele sorriso de contentamento total que ela sempre mostrava ao falar de poesia.
Aprendi a ser assim com ela. A apreciar essa espécie de vício por palavras. Mas quem as cultiva sou eu, ela apenas observa esse processo criativo com curiosidade.

Ela passava horas falando sobre os Beatles, Queen e Cazuza e se recusava terminantemente a escutar Paramore;
Ela não iria à um funk nunca!
Sabia todos os malefícios do pagode e da nicotina e não bebia nem Licor.
Tão certinha...

Ela quase enfartou quando contei que fiz uma tatuagem,
e esses dias comuniquei que a segunda está à caminho e ela murmurou 'Cada louco com sua mania'.
Ela não usa esmalte vermelho,
nem fala alto,
nem sai muito de casa....
Adora um filme assistido tão solitáriamente quanto for possível...

Ela sempre me desafiava e me irritava com seu tom cínico cuidadosamente usado,
suas ironias e piadinhas sempre pertinentes.
Adorava ridicularizar meu romantismo
e a maneira que acredito sempre no melhor das pessoas.

Ela sempre me dizia 'Não acredite', 'não aceite essas migalhas não!'
mas eu nunca segui seus conselhos à risca, e ela sempre soube disso.

Ela sempre me dizia 'Vá ler um livro!' ou 'Pára de falar nele, por favor?Já está me cansando!', ela sempre me trazia de volta à realidade quando eu insistia em devanear por caminhos incertos. Sua dose de ceticismo se misturava tão bem com meu lirismo...
Sua retidão combinava com meus caminhos e idéias tortas,
suas duras verdades sempre gladiavam com minhas 'mentiras profiláticas' ,
sua obstinação sacudia meu marasmo
e seu gosto pelo óbvio completava minha predileção pelo estranho.

Ela era uma parte racional nesse emaranhado de subjetividade que sou eu.
Ela não era extremista
nem exagerada.
Ela era a parte intelectual nesse monte de futilidade,
ela era o norte nesse mundo de lestes errados...

Ela foi o meu motivo pra seguir adiante, sempre.

Já me calei e já mandei ela se ferrar várias vezes;
já ignorei, já fingi não amá-la,
já fugi dela inumeráveis vezes.

Mas ela sempre vem me buscar,
me resgatar das outras que possam me roubar.
Ela sempre vem me salvar de mim mesma.

Dessa vez, ela está aqui, passando um tempo comigo.
Tentando mais uma vez me ensinar a ser 'um pouco menos'
Menos exagerada, extremista, drama queen, intensa, freak, inconstante,insana...

Se ela vai conseguir?
Na verdade, nem sei se quero.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ela não vai. Ela deve.

Rayanna Ornelas disse...

Então tá.

Anônimo disse...

uau!!!!raiiiiiiiii...how nice are your texts!!!!!!!!! adoroooo!!! guria.........vc escreve muito!!!!

Unknown disse...

NOSSA NOSSA NOSSA
Ray se vc soubesse que momento que eu to passando agora com essas mesmas indagações a respeito do que dizem de mim.sobre meus excessos.
passei noites me perguntando será que eu sou alguem tão louca assim?
sempre que penso nisso me lembro das grandes poetas e das grande mulheres elas se destacam na multidão e não sao muitas não...

TE amo por me mostrar que também é assim.
não me sinto tão só nessas horas que a angústia teima em me deixar ver o sol brilhar pra que brilhemos também.
Porque sei que tem gente boa comigo. você é uma delas.

Te AMO Sempre

Jorge Mateus disse...

´´Te Inventarei
Palavras absurdas
Que você compreenderá;
Te falarei
Daqueles amantes
Que viram de novo
Seus corações ateados;
Te contarei
A história daquele rei,
Que morreu por não ter
Podido te conhecer.´´

Ela pode ter sido apenas uma doce ilusão...

Porque toda labareda é precedida de uma faísca.

Letícia disse...

esquisofrênica!